segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A monstruosidade de Deus


TRADITIO

É engraçado como alguns dias se parecem tão iguais, o som to ventilador cortando o vento, o vento batendo na janela, como se ele estivesse me chamando, a cortina se arrastando preguiçosamente pela parede e por fim eu, com as mesmas ideias mas com livros diferentes, com a mesma cara, com o mesmo corpo, com a mesma vida que, juro por deus, já tentei acabar diversas e diversas vezes.

Uma amiga me disse que o auto-conhecimento sem a graça divina é suicídio, o que pra mim reforça a tese marxista de que a religião é o ópio do povo, em seu entorpecimento há, em mim um pé no chão que me impede de voar como os outros, de modo que eu não consigo me alienar e me entregar as convicções e as impressões instintivas dos religiosos, e o que mais me incomoda é a incerteza de não saber se isso é uma virtude. Mas eu vou levando, quem sabe um dia eu chego lá?


OBSOLETUS

Estou tentando encontrar Deus, não nego isso, que talvez eu esteja tentando me render, eu não sei bem. Até lá, empurro com a barriga as dúvidas que engoli. E por falar em dúvida, a dúvida é um conceito que implica na procura de algo ou alguma coisa inerente a uma resposta, e o que mais me irrita na investigação das filosofias medievais é o fato de que não podermos, nem estarmos tentando responder os quesitos subjacentes do cristianismo mas, o por que e como um pensador pensava as indagações pertinentes de SUA ÉPOCA, como se fosse possível pintar o espirito de 500 anos atrás, a triste realidade nisso tudo consiste no fato de perdermos a oportunidade de esclarecer, provocar, esculpir ou, até mesmo, desabar velhos paradigmas tradicionais que enterram suas raízes no solo da ignorância sob o título da fé, e isso me deixa muito, mas muito puto!


DEUS

Deus? o que é Deus pras pessoas? com certeza não é o Deus dos filósofos, nem o Deus da minha mãe é o Deus da vizinha logo a frente, também não acho que o Deus da Igreja Batista seja o mesmo da Universal, nem que a Batista e a Universal idolatre o mesmo Deus da Igreja Católica, e essa, por sua vez, não coincide com a do Shalom, e o Shalom? Bem, só queria dizer pra todos eles que eu não sou shalom; as pessoas, todas eles são providas de idiossincrasias tão peculiares, que eu não hesito em chamar isso de milagre, ou melhor, de Deus. Deus não é uma espécie de Freddy Krueger que só passa a existir se você pensar nele, não! definitivamente não! a vida é grandiosa demais para que Deus exista apenas nesses termos, e Deus é grandioso, puxa, como é grandioso! Mas eu não encontro essa grandiosidade em ícones, estátuas, crucifixos ou imagens, não enxergo nenhum vestígio de Deus na liturgia, mas nas pessoas e o que elas fazem com isso, nos olhares delas, na sinceridade no sobrenatural, na fé que, não sei se sou virtuoso por não possuir, eu encontro Deus nos relacionamentos sinceros, na predisposição humana em querer e fazer o bem ao outro, até na mais estúpidas das situações, eu vejo Deus lá; nos bares, nas favelas, nos prédios, no deserto, em rituais satânicos, em tudo, numa espécie de panteísmo sem exceção; vê, repito, eu não sou shalom, não sou universal, não sou batista, não sou minha mãe nem minha vizinha que mora logo ali em frente, eu sou humano, em toda sua mediocridade e grandeza, tudo é aos meus olhos estranho e grandioso, eu sou humano, eu sou humano, eu sou humano...

Eu sou Deus!














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