Há tempos
venho usando a ideia de suicídio como colete e ficção pra inibir a insônia e os
pensamentos terríveis que me assombram durante a noite. A dor tem se tornado
tão real que chega a materializar, e eu a toco, e a sinto, e sinto, e
sinto...
Não
obstante, resolvi tirar de mim o que em meu peito afogava, as mágoas e as
lágrimas que não derramei ficaram lá; dentro do meu corpo, cheguei a suspeitar
de um tumor, de algum câncer que estava se desenvolvendo, de algum demônio que
havia me possuído, mas não, era só lágrimas, eram só instintos que não foram
descarregados para fora, que se voltaram para dentro, e que me consumiram, e
que quase me destruiu.
Uma febre
lenta em meu corpo encontrou um abrigo, e eu me vi distante, e pela primeira
vez depois de semanas orquestrando minha morte, tive medo! Sim, tive medo de me
perder, de voltar a ser o que era, de dizer pras pessoas certas as coisas
erradas, de viver sem saber direito o que era viver.
Então jurei
por Deus, pelo Diabo, pela santa prostituta de alguma taberna fechada, que iria
me acalmar, e que isso implicaria em fazer o que eu fazia de forma diferente;
tenho que ser menos materialista, pois a sobrecarga que insisto em pegar do chão
é o que impede de voar, tenho que parar de cobrar juramentos que eu jurei terem
jurado por mim, tenho que chorar quando sentir vontade e isso é tudo.
Eu voltei de
um passei com a morte tranquila e serenamente feliz, estava decidido a fazer os
estragos que me faltavam fazer em vida, e dessa maneira comecei a atribuir
valor ao mundo, pintando a existência com as cores que me restavam, e
procurando sempre outras cores.
E cá estou, com sono, mas sem qualquer
desculpa para dormir.
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