Sim, eu sei de onde venho!
Insatisfeito feito o fogo,
Ardo para me consumir.
Aquilo em que toco torna-se chamas,
Em cinzas o que deixo para trás;
Sou fogo, com certeza!
(A Gaia Ciência, aforismo 62 EH,
MartinClaret)
Nietzsche foi, sem dúvida, um dos
filósofos mais provocadores e instigantes da filosofia contemporânea, e não é
alarde, sua filosofia ficou conhecida como a ‘filosofia do martelo’[1], um impulso
para derrubar aquilo que ele chamou de ídolos[2], ou seja, a moral erguida por
uma sociedade doente de hipocrisia, cunhada por um pensamento Cristão de raízes
Platônicas. Suas ideias têm como proposta reivindicativa a aceitação da vida em
todos os seus aspectos, a luta pelo amor fati[3] que protagoniza a existência em
todo seu esplendor. Todavia, o filósofo não estava preocupado em ‘aperfeiçoar o
mundo’, no sentido político da palavra. Seu plano filosófico (se é que ele tem
um plano) é uma luta de cunho ontológico de caráter individual, não coletivo.
Ao contrário de Marx, Nietzsche não escreveu para, nem nunca quis se dirigir as
massas. Muito pelo contrário, ele nunca quis apologista, nem nenhum tipo de
seguidor.
Vademecum – Vadetecum
Agrado-te, os meus discursos atraem-te,
Queres seguir-me, seguir os meus passos?
Segue-te fielmente a ti mesmo;
Assim me seguirás... com suavidade, com
suavidade!
( A Gaia Ciência, aforismo 6 EH, MartinClaret)
(
Não seria ingenuidade concluir,
desse forma, que os ‘Nietzschianos’ entendam pouco de Nietzsche? Não é pra menos,
Nietzsche é um dos filósofos que mais vende livro atualmente, a cultura pop tem
usado com frequência em muitas referencias. David Bowwie, por exemplo, astro do
rock, sempre fez citações explicitas do filósofo em suas músicas, como “the
superman”, na qual falava do nascimento do filho ao mesmo tempo em que citava o
Unbermensch; “Que venha o superman/ que venha ao mundo o Homo Superior”. Filmes, Quadrinhos e Músicas têm feito desse
grande pensador do final do século XIX um pensamento vivo. Nietzsche é quase uma bandeira de rebeldia, uma imagem
que traduziria a manifestação de um pensamento que há muito tempo tem se
consumido com culpa. Seu martelo é uma arma para abalar os valores reacionários
de um tempo arcaico cujos pilares vêm se desabando.
Outro ponto que se deve destacar
quando falamos de Nietzsche, é a sua transvaloração de valores, que se dá no
deslocamento da moral do escravo para a moral do guerreiro, da moral do servo
para um sistema moral que paute a vida, entendida em perspectiva total, de modo
a se alcançar a máxima plenitude em cada existência. Devido a isso, para
Nietzsche, deve-se jamais submeter a vida a mediocridade.
Por outro lado, sua fama e
acessibilidade para o tempo em que vivemos tem outra faceta, facilmente o
Nietzsche é alvo de más interpretações, tais como a absurda ideia de sua
vinculação com o pensamento nazista. Aforismos lidos com predisposições
imediatistas confirmariam isso, frases como; “eu sou uma dinamite”, “viva o
homo superior”, facilmente poderia ser fundamento para essa ideia, se não
fosse, é claro, todo o seu contexto junto com um bom senso. Todavia seu pensamento continua forte, cada dia
que passa mais vídeos no youtube são publicados a seu respeito, livros são escritos, resenhas, comentários, artigos e mais artigos fazem com que as
brechas para uma possível permanente desnorteamento de suas propostas sejam
fechadas. E é o que almejamos, pois o maior medo do filósofo seria ser
interpretado equivocadamente pelos tempos vindouros, porem podemos concluir
que, conforme seu pensamento tem se manifestado, o tempo tem sido o seu maior
aliado; confirmando suas profecias, transformado-o num pensamento vivo, tem
assassinado, de fato, aquilo que o homem um dia chamou de Deus.
[1] Alusão ao seu método, martelo;
colisão de ideias.
[2] Moral, convicções, ficçõe, ele parte
do pensamento de Sócrates, destrói “ídolos” da sua época, como o sistema
educacional alemão, escritores em voga, anarquistas, socialistas e
progressistas, sem nunca deixar, é claro, de atacar a metafísica.
[3] Amor ao fato.
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