quinta-feira, 16 de julho de 2015

NIETZSCHE



Sim, eu sei de onde venho!
Insatisfeito feito o fogo,
Ardo para me consumir.
Aquilo em que toco torna-se chamas,
Em cinzas o que deixo para trás;
Sou fogo, com certeza!
(A Gaia Ciência, aforismo 62 EH, MartinClaret)


Nietzsche foi, sem dúvida, um dos filósofos mais provocadores e instigantes da filosofia contemporânea, e não é alarde, sua filosofia ficou conhecida como a ‘filosofia do martelo’[1], um impulso para derrubar aquilo que ele chamou de ídolos[2], ou seja, a moral erguida por uma sociedade doente de hipocrisia, cunhada por um pensamento Cristão de raízes Platônicas. Suas ideias têm como proposta reivindicativa a aceitação da vida em todos os seus aspectos, a luta pelo amor fati[3] que protagoniza a existência em todo seu esplendor. Todavia, o filósofo não estava preocupado em ‘aperfeiçoar o mundo’, no sentido político da palavra. Seu plano filosófico (se é que ele tem um plano) é uma luta de cunho ontológico de caráter individual, não coletivo. Ao contrário de Marx, Nietzsche não escreveu para, nem nunca quis se dirigir as massas. Muito pelo contrário, ele nunca quis apologista, nem nenhum tipo de seguidor.


Vademecum – Vadetecum

Agrado-te, os meus discursos atraem-te,
Queres seguir-me, seguir os meus passos?
Segue-te fielmente a ti mesmo;
Assim me seguirás... com suavidade, com suavidade! 
(A Gaia Ciência, aforismo 6 EH, MartinClaret)


Não seria ingenuidade concluir, desse forma, que os ‘Nietzschianos’ entendam pouco de Nietzsche? Não é pra menos, Nietzsche é um dos filósofos que mais vende livro atualmente, a cultura pop tem usado com frequência em muitas referencias. David Bowwie, por exemplo, astro do rock, sempre fez citações explicitas do filósofo em suas músicas, como “the superman”, na qual falava do nascimento do filho ao mesmo tempo em que citava o Unbermensch; “Que venha o superman/ que venha ao mundo o Homo Superior”.  Filmes, Quadrinhos e Músicas têm feito desse grande pensador do final do século XIX um pensamento vivo. Nietzsche é quase uma bandeira de rebeldia, uma imagem que traduziria a manifestação de um pensamento que há muito tempo tem se consumido com culpa. Seu martelo é uma arma para abalar os valores reacionários de um tempo arcaico cujos pilares vêm se desabando.



Outro ponto que se deve destacar quando falamos de Nietzsche, é a sua transvaloração de valores, que se dá no deslocamento da moral do escravo para a moral do guerreiro, da moral do servo para um sistema moral que paute a vida, entendida em perspectiva total, de modo a se alcançar a máxima plenitude em cada existência. Devido a isso, para Nietzsche, deve-se jamais submeter a vida a mediocridade.


Por outro lado, sua fama e acessibilidade para o tempo em que vivemos tem outra faceta, facilmente o Nietzsche é alvo de más interpretações, tais como a absurda ideia de sua vinculação com o pensamento nazista. Aforismos lidos com predisposições imediatistas confirmariam isso, frases como; “eu sou uma dinamite”, “viva o homo superior”, facilmente poderia ser fundamento para essa ideia, se não fosse, é claro, todo o seu contexto junto com um bom senso. Todavia seu pensamento continua forte, cada dia que passa mais vídeos no youtube são publicados a seu respeito, livros são escritos, resenhas, comentários, artigos e mais artigos fazem com que as brechas para uma possível permanente desnorteamento de suas propostas sejam fechadas. E é o que almejamos, pois o maior medo do filósofo seria ser interpretado equivocadamente pelos tempos vindouros, porem podemos concluir que, conforme seu pensamento tem se manifestado, o tempo tem sido o seu maior aliado; confirmando suas profecias, transformado-o num pensamento vivo, tem assassinado, de fato, aquilo que o homem um dia chamou de Deus.

[1] Alusão ao seu método, martelo; colisão de ideias.
[2] Moral, convicções, ficçõe, ele parte do pensamento de Sócrates, destrói “ídolos” da sua época, como o sistema educacional alemão, escritores em voga, anarquistas, socialistas e progressistas, sem nunca deixar, é claro, de atacar a metafísica.

[3] Amor ao fato.


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